Archive for the ‘1968’ Category

Maria Antônia – A História de uma Guerra

outubro 10, 2012

Maria Antônia: A História de uma Guerra” resgata parte do movimento estudantil do Brasil perdido no tempo, contado tão somente através das informações dadas pelos jornais da época. Quarenta anos depois da histórica briga entre estudantes da Faculdade de Filosofia da USP e do Mackenzie,o repórter e escritor Gilberto Amendola reconstrói cenas daquele episódio por meio de entrevistas com seus principais personagens,como o ex-chefe da Casa Civil do Governo Lula, José Dirceu,e outros tantos estudantes que hoje podem ser facilmente reconhecidos do cenário nacional.

Só para não esquecer jamais

abril 1, 2012

A SOMBRA DE MAIO DE 1968

janeiro 24, 2010


José Ribamar Bessa Freire
18/05/2008 – Diário do Amazonas

Maio de 2008. Uma chuva fina cai sobre Paris, onde me encontro por razões de trabalho. Escrevo a crônica dominical, depois de passar o dia flanando pelos becos e vielas do Quartier Latin e pelo cais à margem do rio Sena, com seus quiosques de livros usados e algumas raridades. Busco vestígios da revolta de maio de 1968, considerada por alguns analistas como “o acontecimento histórico mais importante do século XX”.

Aqui, há quarenta anos, os estudantes ocuparam as universidades, fizeram assembléias e discursos incendiários, picharam os muros, ergueram barricadas, brigaram com a polícia e realizaram quase diariamente manifestações de rua, com um saldo de muitos presos e feridos. O epicentro desse terremoto foi, justamente, o Bairro Latino.

Numa dessas passeatas, no dia 24, eles marcharam em direção à Bolsa de Valores arrancaram as grades de ferro, derrubaram os portões, invadiram e tocaram fogo no prédio, incendiando tudo que havia lá dentro: móveis, documentos, formulários e registros de cotação de ações. De lá, voltaram pro Quartier Latin, onde travaram com a polícia uma das mais violentas batalhas das jornadas de maio.

A foto colorida do templo do capitalismo em chamas, iluminando a noite parisiense, tinha – que a Polícia me perdoe! – tanta beleza e tanta força simbólica, que ganhou manchete em todos os jornais do mundo. Foi capa da revista Newsweek, com a legenda “French Revolution 1968”. Nesse momento, a revolta estudantil já havia se alastrado por fábricas, usinas e escritórios, enfeitando pátios com bandeiras vermelhas. A França estava totalmente paralisada, com mais de dez milhões de grevistas.

Maio de 1968 veio, efetivamente, questionar tudo: o sistema educacional, o regime de trabalho, a sociedade de consumo, a religião, a repressão sexual, o autoritarismo do Estado onipotente, os costumes, a mesmice, os modelos tradicionais de casamento, a estrutura familiar, o papel da mulher, a dominação machista, o sistema capitalista e sua política conservadora e até mesmo os sindicatos e os partidos políticos que foram atropelados pelos acontecimentos.

A conjuntura internacional estava marcada pela invasão das tropas norte-americanas ao Vietnã. Os manifestantes parisienses, contrários à guerra, celebravam a liberdade, a juventude, a igualdade, a utopia, a revolução, os direitos humanos, a solidariedade, a paz e o amor, como cantou Georges Moustaki: “Vem, meu amor, escuta essas palavras que vibram sobre os muros do mês de maio. Elas nos dão a certeza de que podemos refazer nossa vida, de que podemos ser livres e que tudo pode mudar um dia”.

Ah, as pichações vibravam, efetivamente, sobre os muros! Maio de 1968 foi – como escreveu Raymond Aron – uma ‘maratona de palavras’, fruídas por jovens de todos os países, que queriam “a imaginação no poder” e faziam reivindicações audaciosas: “Sejamos realistas, exijamos o impossível” ou “Criemos comitês de sonhos”. Os estudantes substituíram o lema do Manifesto Comunista de Marx: “trabalhadores do mundo, uni-vos” por “trabalhadores do mundo inteiro, divirtam-se”. A contestação atacava o coração do sistema: “a mercadoria é o ópio do povo”.

O que sobrou de tudo isso? Cadê os revolucionários que queriam mudar o mundo? Quarenta anos depois, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, declara que vai liquidar a herança de maio de 68. Entrevistado por um jornal, Moustaki deu uma resposta digna de um ‘soixante-huitard’, de um ‘meia-oito’: “Se o presidente insiste tanto em acabar com essa herança, é porque ela está viva e continua importante, incomodando e contradizendo o presidente. Vai ver, ele só pensa assim, porque não consegue gozar. É uma pena, porque tem uma mulher tão bonita”.

Procuro maio de 1968 em todos os lugares, inclusive nos museus. No sábado, dia 17 de maio de 2008, a França celebra “a noite dos museus”, que abrem suas portas até meia-noite, com entrada gratuita e intensa programação. O Museu da Prefeitura de Polícia de Paris anuncia uma exposição, com fotos de seus arquivos, intitulada “Proibido de lembrar: os acontecimentos de maio de 68”, e que foram tiradas pelos próprios meganhas. O cartaz diz: “Maio de 68: enfim o ponto de vista das forças da ordem”. Vou lá conferir e sou informado por uma polícia feminina que a exposição foi cancelada “pour des raisons qu’on ne peut pas expliquer”. Será que o Sarkozy censurou?

A mulher fardada – apesar da farda ela é até gostosinha, com o perdão das leitoras por esse pecado machista – nos convida a ver a exposição permanente do Museu da Polícia. Lá dentro, as fichas de Voltaire e Saint-Just presos várias vezes na Bastilha, a repressão contra a comuna de Paris, a ocupação alemã na segunda guerra e a violência contra os judeus, além de outros documentos sobre os grandes crimes da França: assassinatos com requintes de crueldades, roubos, etc. Deixamos o museu frustrados pelo ocultamento de maio de 1968.

Continuo procurando nos calçamentos do boulevard Saint-Michel, onde não encontro um só buraco que me faça lembrar as pedras arrancadas pelos estudantes para apedrejar a polícia. “Sous les pavés, la plage”, eles picharam, na época, nos muros da Sorbonne, indicando romanticamente, ironicamente, que debaixo dos paralelepípedos arrancados, era possível descobrir uma praia de areia branca.

Lá, na praça da Sorbonne, me detenho em uma bela exposição de fotos de Marc Riboud, que dão uma idéia do que foram as barricadas estudantis. Uma delas mostra os estudantes arrancando os paralelepípedos com o ferro das grades que foram arrebentadas. Em outra foto, os manifestantes, qual cruzados de um novo tempo, usam grandes tampas redondas das latas de lixo como escudos. Sartre aparece numa terceira foto dentro do auditório da Sorbonne, no meio de uma enorme confusão.

Estou admirando as fotos e eis que de repente ouço uma música, em português, me chamando para a luta. Alguém canta um hino revolucionário, mais incendiário do que a marselhesa: “vamos à luta, lutar para vencer, se for preciso lutar até morrer, lutar com disciplina e destemor, mostra para o mundo o teu valor”. Antes de pegar meu paralelepípedo, olho pra trás e vejo a prima do poeta Thiago de Mello – a Marilza – que mora em Paris. O que ela cantava era o hino do Nacional Futebol Clube de Manaus, cuja primeira estrofe é revolucionária. Mas a segunda quebra o encantamento: “Tua torcida estará sempre a teu lado, sempre fiel, meu clube adoraaaado”.

Mais tarde, demos de cara com uma passeata de estudantes secundaristas, protestando contra a supressão de 12 mil vagas na educação nacional. Depois, passamos em frente ao Liceu Vigée-Le Brun, em Montparnasse na hora do recreio. O alarido alegre das crianças, os gritos de meninos brincando atravessam os muros do colégio e ganham o boulevard Pasteur, me confortando e me dando uma esperança de que maio de 1968 está presente na existência desses meninos e no coração dos secundaristas e que tudo pode mudar um dia, como canta Moustaki.

1968 – 13 de dezembro

dezembro 19, 2008

comemoracaoduvida

Em 13 de dezembro de 1968, há 40 anos, é editado o Ato Institucional nº 5, acompanhado do Ato Complementar nº 38, inaugurando uma longa noite de terror no Brasil.

O presidente ganha o direito de interferir nos outros Poderes da
República, podendo intervir nos Estados e municípios sem as
limitações previstas na Constituição. O Congresso Nacional é
fechado

saudosismo

Durante o governo de Arthur da Costa e Silva – 15 de março de 1967
à 31 de agosto de 1969 – o país conheceu o mais cruel de seus
Atos Institucionais.

Era o mais abrangente e autoritário de todos os outros atos institucionais, e na prática revogou os dispositivos constitucionais de 67, além de reforçar os poderes discricionários do regime militar.
O Ato vigorou até 31 de dezembro de 1978

“Quando se observa uma clara tendência, na imprensa e em certos círculos acadêmicos, de recontar a história e absolver os seus algozes, não podemos deixar passar em branco o dia 13 de dezembro de 1968: data da edição do Ato Institucional nº 5.”
(Gilson Caroni Filho)

1968 – A anti-tese

dezembro 11, 2008

68-france-brasil

por Eduardo Sposito

A idéia básica é tentar mostrar o que representou aquele ano – aquele período – para um jovem que viveu a agitação numa cidade grande e fugir um pouco das grande teses sociológicas e políticas que já foram feitas sobre o período. (Aliás, acho que esta é a grande contribuição deste Arquivo.)

A primeira afirmação contraditória (e herética, espero): a luta aqui desenvolvida não tinha nada a ver com o “maio de 68” na França e na Europa.

Digo isso do ponto de vista daquele jovem envolvido nas lutas que se travavam contra a ditadura e para a construção do socialismo sonhado e imaginado, antes de 68.

O máximo que podia representar aquilo que acontecia na França, na Europa toda e até nos EUA com o poder jovem, e o fato de estimular nossa luta.

Nossa identidade era mais com os movimentos da América Latina (Tupamaros, Montoneros, Sendero Luminoso, Mir…) com Cuba, Vietnã e até a China…

As palavras de ordem para a grande massa jovem vinha da música, poesia, teatro, cinbema, literatura e artes em geral, produzidas aqui e na América Latina.

Nossas fontes eram Chico, Caetano, Gil, Vandré, Boal, Guarnieri, Thiago de Mello, Dom Helder, Guevara, Vitor Jarra, Violeta Parra, Neruda, Zé Celso, Josué de Castro, Celso Furtado, Paulo Freire, Darci Ribeiro, Caio Prado, Nelson Werneck, Glauber, Marighela, Lamarca… (Pode parecer uma salada ideológica… e era mesmo.)

O maio de 68 nos pareceu (já naquela época) uma tentativa da jovem esquerda européia de participar do que estava ocorrendo no terceiro mundo, em especial no Vietnã, em Cuba e na América Latina. O filme “A Chinesa” do Godard, me parece, demonstra isso. Mas era um movimento burguês, como demonstram entrevistas atuais com as lideranças da época, especialmente Cohn-Bendit.

A verdadeira revolução que estava acontecendo entre nós(conforme tentei demonstrar numa das Cenas-68, citando Roberto Freire) era a incorporação em nosso dia-a-dia do modo de viver socialista, na construção do coletivo. Para nós não só o trabalho, a produção seria socializada, mas o amor, os sonhos tenderiam para o coletivo. O amor pela pessoa amada era um símbolo e uma concretização do amor por toda a humanidade(As relações com a Igreja do Vaticano II e com as CEBs eram muito fortes.)

Quem não entender isso, não vai entender porque tantos jovens renunciaram à propria vida, muitos morrendo nas mãos da reperessão e das guerrilhas urbana e rural.Costumo dizer que não queríamos tomar o poder; queríamos apenas fazer a revolução

(Infelizmente em muitos países só se tomou o poder e não se fez a verdadeira revolução: não se mudaram as relações de produção da vida, que levariam à mudança nas relações sociais etc.. Mas não adianta, ninguém mais acredita no velho Marx)

Aqui também houve o equívoco da tomada do poder (como se fosse possível resistir naquele momento ao imperialismo americano) e as lideranças usaram esse potencial revolucionário dos jovens na aventura de derrubar a ditadura( que não era o inimigo: era apenas a forma que o inimigo (o capitalismo) assumia naquele momento.)
E o verdadeiro potencial revolucionário foi de roldão com a derrota da luta armada.

Quarenta anos depois, olhando aquilo que passamos, o drama não é achar que fomos derrotados. É perceber que estávamos certos. A revolução ainda está aí por se fazer. E ele tem que ser feita, para não tornarmos verdadeira a frase do Ivan Lessa no saudoso Pasquim:” o ser humano é inviável”.

E hoje, depois de 10 meses de imersão total na minha “comunidade de base” na periferia de Rio Preto, constato que a revolução não só é necessária, mas viável. Os “manos e as minas” não se cansam de me mostrar os caminhos a serem percorridos. Faltam apenas os caminhantes e a canção ( Entra a trilha sonora :”A Estrada e o Violeiro” de Sidney Miller, na voz de Nara Leão:”Sou violeiro caminhando só…)

Mas não desanimo. Da próxima vez a gente chega mais perto

CANNES 68: O CHOQUE DE MAIO

dezembro 9, 2008

Considerado por jovens cineastas representante do conservadorismo, o Festival de Cannes não passou incólume às revoluções do período.

Por Alexandre Figueirôa, colunista do O Grito!

Os anos 60 foram efervescentes sob diversos aspectos, e o cinema, como era de se esperar, refletiu as grandes mudanças da sociedade registradas no período. O Festival de Cannes também não escapou da onda de renovação e contestação que se espalhou pelos quatro cantos do planeta. Mas, 1968 foi, sem dúvida, o ano chave desse processo de transformação. E o maior evento cinematográfico do mundo viu o glamour e o desfile de astros e estrelas, no Palácio do Festival e na Croisette, ser rapidamente substituído pela contestação e pelo debate político.

Na verdade, o estado de tensão no cinema francês já estava acionado desde fevereiro, quando o então ministro da Cultura, o escritor André Malraux havia afastado, por razões políticas, Henri Langlois da direção da Cinemateca Francesa. O episódio, mobilizou cineastas, críticos e transformou a redação da revista Cahiers du Cinema no quartel-general de resistência. Depois de inúmeros manifestos e passeatas, Malraux recuou, e Langlois, no início de maio, foi reconduzido ao cargo. Entretanto, a paixão política havia contagiado todos os envolvidos no acontecimento.

 

O artigo completo foi publicado em Revista O Grito. Para continuar a leitura do artigo, clique aqui.

Prá Tonga da Mironga

novembro 17, 2008

 

Logo depois do artigo “Quem te viu, quem te vê, MBP!, recebo, por e.mail, o seguinte texto de Olga Maria Salati Marcondes de Moraes, a Olguinha:

Na revista Brasil: Almanaque de Cultura Popular, editor Elifas Andreato, novembro/2008 – distribuída nos vôos da TAM, (você certamente já deve ter visto), a chamada de capa é:

O ano em que o Brasil escureceu – os ideais revolucionários de 1968 interrompidos pela sombra do AI-5.

 Há uma boa reportagem: Cenas de um ano que não terminou, com uma panorâmica sobre os fatos e fotos que tornaram tão significativo aquele ano prá todos nós.

Ao final, faz referência ao livro do Zuenir, já conhecido e também a uma edição de fotojornalismo denominada – 1968 Destinos 2008: A passeata dos 100 mil, de Evandro Teixeira (Textual, 2008). 

Você já conhece? Parece uma composição interessante: o Evandro, que é fotojornalista, retoma as fotos que fez da passeata dos 100 mil em 68, seleciona pessoas que dela participaram e novamente entrevista-as 40 anos depois. Acho que é isso, pois não vi o livro. Vou procurá-lo aqui em Soroca City. Poderia ir para a bibliografia do Arquivo 68, não? 

Caso tenha lido, que tal rabiscar um post?

Pode me mandar prá Tonga da mironga (isto é dos anos 60!)… além de não escrever ainda fico pedindo e sugerindo coisitas!

 Prometo encerrar.

Abraços

Olga

Olguinha, como percebes, mesmo sem ter lido a revista e ainda sem conhecer o livro, rabisquei o post. Estou aprendendo a ser “criativo”. Pode também me mandar prá Tonga da mironga. Mereço.

Küller

Calendário 1968

outubro 25, 2008

No início deste ano, a Revista Época fez uma reportagem sobre os quarenta anos desde 1968. Nessa reportagem, incluiu um calendário com os eventos mais significativos daquele ano. Reproduzimos o calendário a seguir. Embora incompleto, ele pode ser um guia para navegar em Arquivo68. Clicando sobre a imagem ou clicando aqui, a imagem pode ser ampliada.

Brasil, 1968 – Assalto ao Céu, descida ao Inferno

maio 25, 2008

 “Neste 2008, permanece singularmente pertinente a concepção que sem “ousar lutar”, não é possível vencer e que não há pior derrota que a sofrida sem combate. As jornadas de 1968, no Brasil e no mundo, não constituem simples sucessos históricos a serem narrados. Passados quarenta anos, 1968 permanece como esfinge enigmática, exigindo que sejam desvelados seus complexos sentidos. Como poderoso farol, segue ainda indicando, mesmo muito longe, no horizonte, o caminho seguro a ser seguido.”

O parágrafo anterior conclui o artigo “Brasil, 1968 – Assalto ao Céu e descida ao Inferno“, de Mário Maestri, que postamos em Páginas 25. O autor tece um panorama dos acontecimentos do ano de 1968, com ênfase nas dimensões políticas e culturais. Mais uma visão sintética que vale a pena ser lida.