Archive for the ‘música engajada’ Category

1968 – Joaquin Sabina

fevereiro 2, 2013
1968
Aquel año mayo duró doce meses
tú y yo acabábamos de nacer
y un señor muy serio moría del disgusto.
En la primera página del ABC,
los claveles mordían a los magistrados,
París era un barrio con acordeón,
Marx prohibió a sus hijos
que llegaran tarde
a la dulce hoguera de la insurrección,

La poesía salió a la calle,
reconocimos nuestros rostros,
supimos que todo es posible
en 1968.

Jean Paul Sartre y Dylan cantaban a dúo
jugaban al corro Lenin y Rimbaud,
los relojes marcaban 40 de fiebre,
se hablaba de sexo en la empresa Renault,
dos y dos ya nunca más sumaron cuatro,
sufrió mal de amores hasta De Gaulle,
en medio de Praga crecían amapolas
como un reto rojo al gris hormigón,

La poesía salió a la calle
reconocimos nuestros rostros
supimos que todo es posible
en 1968.

Pero no pudimos reinventar la historia,
mascaba la muerte chicle en el Vietnam,
pisaban los tanques las flores de Praga,
en México lindo tiraban a dar
mientras Che cavaba su tumba en Bolivia
cantaba Massiel en Eurovisión
y mi padre llegaba puntual al trabajo
con el cuello blanco y el traje marrón.

Si ahora encuentro aquel amigo
leo en el fondo de sus ojos
que ya se secaron las flores
de 1968.

Los cuadros hicieron huelga en los museos,
París era rojo, San Francisco azul,
un vagabundo fue elegido alcalde
y la Sorbona estaba en Katmandú,
¡sobreviva imbécil! es el rock o la muerte
beba coca-cola, cante esta canción
que la primavera va a durar muy poco
que mañana es lunes y anoche llovió.

Si ahora encuentro aquel amigo
leo en el fondo de sus ojos
que ya se secaron las flores
de 1968.

Bella Ciao

janeiro 11, 2012

Sonho impossível

março 29, 2011

Helena KullerFoi um pouco depois de 68. Creio que em 1972. Plena ditadura. Estava ouvindo rádio com a minha namorada. Uma música instrumental que nunca tinha ouvido antes me chamou a atenção. Ouvi-a atentamente. Ao final, comentei:

– Esta música me dá saudades de pessoas que não conheci. Faz-me recordar de coisas que nunca vivi. Lembra-me de lugares que nunca estive…

Estava comentando a música quando o locutor que apresentava o programa de rádio disse:

– Acabamos de ouvir: Impossible Dream.

Pouco depois, assisti no teatro do SESC na Dr. Vila Nova a peça teatral O Homem de La Mancha. A música-tema da peça: Sonho Impossível. Uma versão de Impossible Dream feita por Chico Buarque de Holanda e Ruy Guerra.

Desde então Sonho Impossível é minha música engajada por excelência. O hino de todo engajamento em processos de mudança. Música de fundo dos movimentos de transformação.

Com vocês, Sonho Impossível!

Sonho Impossível
J. Darion – M. Leigh – Versão Chico Buarque e Ruy Guerra/1972
Para o musical para O Homem de La Mancha de Ruy Guerra
Sonhar
Mas um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão

Menina Jesus

março 8, 2011

Tempos atrás, em comentário aqui no Arquivo68, mencionei a música Menina Jesus, de Tom Zé. Agora, destaco, em post sobre música engajada, essa obra do compositor e cantor baiano.

Tom Zé é um gênio, nem sempre reconhecido, com obra muito mais revolucionária que os badalados Caetano e Gil. Faz uma música engajada sutil, quase sempre com traços de humor e muita ironia.

Em 1968, na Maria Antônia ocupada (na verdade no auditório da Economia, que ficava num prédio da Rua Dr. Vila Nova), participei de encontro com Caetano, Gil, Dedé e Nana Caymi. No evento – uma das atividades que o comitê de cultura da ocupação organizou – rolaram músicas e conversas. Uma das coisas que nunca esqueci do acontecido na ocasião foi um papo do Caetano Veloso. Ele nos disse mais o menos o seguinte:

  • _ Não quero fazer música de protesto com letra forte e melodia bem comportada. Vocês ouvem, cantam e dançam certas músicas de protesto. A letra é esquecida. Fica o ritmo. Fica a melodia. Nada muda. A música quadrada não contesta, não incomoda. Eu quero incomodar. Por isso faço e farei músicas das quais vocês não gostarão. Vocês não poderão dançá-las. Para protestar é preciso contrariar o conforto musical de vocês (e da burguesia).

Logo depois dessa conversa, Caetano fez É Proibido Proibir. A obra, apresentada num festival, foi vaiada o tempo todo.

Até pouco tempo eu achava que a idéia de contestar musicalmente, contrariando velhas estruturas melódicas e rítmicas às quais nos acostumamos, era uma idéia original do Caetano Veloso. Sei agora que essa idéia não era dele. Era do Tom Zé. Não preciso me deter muito em argumentos sobre isso. A obra de um e outro, dos sessenta para cá, mostra bem quem de fato contestou mais. Tom Zé vence de goleada.

Menina Jesus é uma das músicas de Correio da Estação do Brás, belo álbum (LP), de 1978. Ela tem dois elementos contestatórios: título e conteúdo da letra. O título é feminista. Em vez de Menino Jesus, temos uma Menina. Tom Zé feminiza a divindade. Quando ouvi a música pela primeira vez esse detalhe me surpreendeu. O conteúdo fala de sonhos de um nordestino que migrou para o Sul Maravilha. Ele sonha ser cidadão. Suas declarações parecem ingênuas. Ele quer coisas pequenas, entre as quais “pagar imposto de renda” e “ter picolé na merenda”. Quando voltar para o norte quer chegar como vencedor, com óculos escuro e rádio de pilha a tiracolo. O humor e ironia de Tom Zé lembra Carlitos, lembra Cantinflas. A crítica aos valores da burguesia sulista é corrosiva.

Melhor que meus comentários é a letra. Aqui vai ela:

comentário:
O nordestino que vem tentar o Sul só pode visitar os seus quando tiver comprado três importantes
símbolos da civilização: um rádio de pilha, um relógio de pulso e um par de óculos escuros.

Valei-me, minha menina Jesus
minha menina Jesus
minha menina Jesus, valei-me.

Só volto lá a passeio
no gozo do meu recreio,
só volto lá quando puder
comprar uns óculos escuros.

Com um relógio de pulso
que marque hora e segundo,
um rádio de pilha novo
cantando coisas do mundo —
pra tocar.

Lá no jardim da cidade,
zombando dos acanhados.
dando inveja nos barbados
e suspiros nas mocinhas…

Porque pra plantar feijão
eu não volto mais pra lá
eu quero é ser Cinderela,
cantar na televisão…

Botar filho no colégio,
dar picolé na merenda.
viver bem civilizado,
pagar imposto de renda.

Ser eleitor registrado,
ter geladeira e tv,
carteira do ministério,
ter cic, ter rg.

Bença, mãe.
Deus te faça feliz
minha menina Jesus
e te leve pra casa em paz.

Eu fico aqui carregando
o peso da minha cruz
no meio dos automóveis,
mas

Vai, viaja, foge daqui
que a felicidade vai
atacar pela televisão

E vai felicitar, felicitar
felicitar, felicitar
felicitar até ninguém mais
respirar.

Acode, minha menina Jesus
minha menina Jesus
minha menina Jesus, acode.

Aqui vai interpretação belíssima de Menina Jesus, numa performance do Grupo de MPB da UFPR.

Para quem quiser ouvir a interpretação do próprio Tom Zé no registro do álbum Correio da Estação do Brás, segue vídeo no qual os produtores combinam imagens com a gravação original do artista.

Blowing in The Wind

março 4, 2011

Esta canção se tornou um hino da luta
pelos direitos civis
.

Blowing in The Wind
Bob Dylan

Quantas estradas deve um homem caminhar
antes que chamem-o de homem?
Quantos mares deve um veleiro navegar
antes que ele possa dormir na areia?

Quantas vezes devem voar bolas de canhão
antes que sejam eternamente banidas?
A resposta, meu amigo, esta soprando ao vento
a resposta esta soprando ao vento.

Quantos anos deve uma montanha existir
antes que seja desintegrada pelo mar?
Quantos anos devem algumas pessoas existirem
antes que possam permitir-se a liberdade?

Quantas vezes deve um homem girar sua cabeça
e acreditar que ele apenas não pode ver?
A resposta, meu amigo, esta soprando ao vento
a resposta esta soprando ao vento.

Quantas vezes deve um homem olhar para cima
antes que possa ver o céu?
Quantos anos deve um homem ter
antes que possa ouvir alguém chorar?

Quantas mortes levarão até que ele saiba
Que muitas pessoas morrerão?
A resposta, meu amigo, esta soprando ao vento
a resposta esta soprando ao vento.

Seguem os vídeos de duas interpretações da canção.

O primeiro com Joan Baez cantando ao vivo em Paris em 1983 em apresentação memorável. O segundo com Katie Melua cantando em show ao vivo em 2007.

Opinião

fevereiro 11, 2011

Acho que, na época do Show Opinião, o que a música tinha de engajada era seu refrão: “podem me bater, podem me prender, que eu não mudo de opinião”. Durante a ditadura militar, ter ou não mudar  certas opiniões era perigoso. Hoje, em tempos de deslizamentos de encostas, pode suscitar outras leituras.

Aí vai a letra:

Opinião

Podem me prender
Podem me bater
Podem, até deixar-me sem comer
Que eu não mudo de opinião
Daqui do morro
Eu não saio, não

Se não tem água
Eu furo um poço
Se não tem carne
Eu compro um osso
E ponho na sopa
E deixa andar
Fale de mim quem quiser falar
Aqui eu não pago aluguel
Se eu morrer amanhã, seu doutor
Estou pertinho do céu

Le Déserteur

janeiro 31, 2011

Le Déserteur é a mais famosa canção antimilitarista. Foi composta por Boris Vian, músico escritor e intelectual francês. Vian nasceu em 1920 e morreu precocemente em 1959.

Le Dérseteur foi escrita em 1954, numa época em que a França estava atolada na Guerra da Indochina (Vietnan). Não era uma canção pacifista. O último verso do poema original dizia: “Prévenez vos gendarmes, que je serai en arme et que je sais tirer” (avise seus esbirros que estou armado e sei atirar). Essa advertência para os perseguidores do desertor nunca foi gravada. Já na primeira versão, a censura começou a implicar com a mensagem de Vian contra a guerra. O primeiro cantor a gravar a canção, Marcel Mouloudji, foi praticamente banido das rádios francesas. Um vereador de Paris pediu censura total de Le Déserteur, e a música foi proibida. A censura cessou apenas em 1962.

Vian escreu uma carta aberta ao vereador que promoveu censura de sua obra. Faço aqui uma tradução livre da citada carta.

Não, Sr. Faber, você não deve olhar para um insulto onde este não existe e, se você o vê, é você que o coloca em minha canção. O que digo não está sujeito a interpretação: eu nunca quis ofender veteranos da I ou II Guerra, nem os Partisans (tenho muitos amigos entre eles), nem as vítimas da guerra (entre elas, eu tive muitos amigos também).  Meus insultos são sempre francos e de coração aberto, embora bastante raros. Nunca insultarei pessoas como eu, civis aos quais foi dado um uniforme apenas para serem mortos como coisas, nada mais, e que tiveram suas cabeças preenchidas por palavras vazias e desculpas sem sentido.  Somente um idiota, não um heroi, luta sem saber o motivo pelo qual está lutando; um heroi é aquele que aceita a morte se souber que ela será útil à causa que defende. O desertor de minha canção não sabe por que; quem irá lhe explicar? Não sei de que guerra você é veterano; mas, se for um veterano da I Guerra, devo admitir que você tem mais talento para a guerra que para a paz. Aqueles que, como eu, tinham 20 anos em 1940, ganharam um belo aniversário de nascimento. Não pretendo ser contado entre os bravos: fui rejeitado por causa de uma doença cardíaca, não lutei, não fui deportado, não colaborei com os nazistas; vivi aqueles quatro anos como um pobre diabo na multidão, e não pude entender porque alguém tem de ter explicações para o que é perfeitamente claro. Hoje tenho 34 anos, e lhe digo: se fosse chamado para defender aqueles que amo, eu lutaria. Mas se fosse chamado a morrer queimado por napalm numa guerra ignóbil, como um obscuro peão numa luta cujas razões são movidas por interesses políticos excusos, desertaria.  Farei minha própria guerrra. O país inteiro se levantou contra a Guerra da Indochina quando todo mundo tomou consciência do que estava acontecendo de fato; todos os rapazes que foram massacrados lá acreditavam estar “defendendo” alguma coisa ou alguém … – como lhes foi dito – bem, eu não os insulto. Fico de luto por eles. Entre eles, quem sabe, havia grandes pintores ou grandes músicos e, sem dúvida, muita gente boa.

Em 1966, Peter, Paul and Mary descobriram a canção e gravaram-na. Le Déserteur acabou se tornando um hino de gente que protestava conta a Guerra do Vietnan e outras guerras nos anos de 1960. Inúmeras gravações, em diversos idiomas, aconteceram. A letra da música sofreu algumas alterações nesse processo, mas continuou a ser um libelo a favor da paz. Segue aqui uma versão do poema em francês:

Monsieur le Président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le Président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C’est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m’en vais déserter

Depuis que je suis né
J’ai vu mourir mon père
J’ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j’étais prisonnier
On m’a volé ma femme
On m’a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J’irai sur les chemins

Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:
Refusez d’obéir
Refusez de la faire
N’allez pas à la guerre
Refusez de partir
S’il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le Président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n’aurai pas d’armes
Et qu’ils pourront tirer

E aqui está a canção, cantada por seu criador, Boris Vian:

 

Jarbas Novelino Barato

Victor Jara

janeiro 25, 2011

Victor Jara forma um capítulo a parte no que se refere à música latino americana e à canção engajada, mesmo porque dedicou sua vida à música e morreu por ela, assassinado nos primeiros dias do violento golpe militar chefiado pelo General Pinochet. Muitas são suas belas canções que podem fazer parte desta série. Escolhi para começar, Manifiesto, que expressa poeticamente a motivação profunda de seu canto.

Prece – música engajada?

janeiro 22, 2011

Jarbas Novelino Barato, no post anterior, disse:

Antônio Morales sugere que a série que inauguramos agora tem como foco Canções de Protesto ou Música  Engajada. Prefiro a segunda expressão. É mais abrangente. É mais inclusiva. Pode incluir canções do Vandré, assim como a Internacional ou a Marseillaise. É mais sutil e menos datada. Mas, não está aqui em jogo o conceito. O que queremos é rememorar movimentos e músicas que refletiram e ainda refletem compromissos sociais e políticos.

Para dar continuidade à série proposta por Antônio Morales, começo concordando com Jarbas. Concordo com o título da série (Música Engajada) e com o critério: postar músicas que sejam sutis e menos datadas. Outra característica em comum entre as músicas antes postadas por Morales e por Jarbas é o fato de suas letras serem poesias conhecidas.

Vou seguir na mesma linha, não sei se exagerando na sutileza. Prece é um poema do livro Mensagem de Fernando Pessoa. Foi musicado. O resultado é uma música engajada?

PRECE

Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia –
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância
— Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Fernando Pessoa

Cristo de los Gitanos

janeiro 20, 2011

Antônio Morales sugere que a série que inauguramos agora tem como foco Canções de Protesto ou Música  Engajada. Prefiro a segunda expressão. É mais abrangente. É mais inclusiva. Pode incluir canções do Vandré, assim como a Internacional ou a Marseillaise. É mais sutil e menos datada. Mas, não está aqui em jogo o conceito. O que queremos é rememorar movimentos e músicas que refletiram e ainda refletem compromissos sociais e políticos.

Minha primeira colaboração, para ficar na Espanha e em Serrat, é um poema de Antonio Machado, grande poeta espanhol. Machado sempre esteve à esquerda em sua vida. Foi um dos fundadores da Universidad Popular de Segovia. Combateu o fascismo de Franco. E, acima de tudo, converteu em poesia tradições ibéricas com profundas raízes populares. Serrat musicou diversos poemas de Machado e publicou um álbum belíssimo: Dedicado a Antonio Machado, poeta. Nehuma das letras é de protesto. Mas, todas elas são fruto do engajamento de Machado com as causas populares de sua Espanha. Achei que o melhor exemplo disso é La Saeta:

Dijo una voz popular:
¿Quién me presta una escalera
para subir al madero
para quitarle los clavos
a Jesús el Nazareno?

Oh, la saeta, el cantar
al Cristo de los gitanos
siempre con sangre en las manos,
siempre por desenclavar.

Cantar del pueblo andaluz
que todas las primaveras
anda pidiendo escaleras
para subir a la cruz.

Cantar de la tierra mía
que echa flores
al Jesús de la agonía
y es la fe de mis mayores.

¡Oh, no eres tú mi cantar
no puedo cantar, ni quiero
a este Jesús del madero
sino al que anduvo en la mar!

Nada de chamado à luta. Nada de protesto contra isso ou aquilo. Um poema sutil. Sangue do Cristo e sangue do povo se confundem. O Jesus preferido do poeta não é o cordeiro sacrificado, mas o homem que caminha sobre as águas. Andaluzes são um povo que pede escadas para subir na cruz e quer eliminar o sofrimento.

Adiantei um começo de interpretação do poema. Mas, em arte, toda interpretação é pobre. O que conta é o contato direto e pessoal com a produção do artista. Por isso, convido vocês para uma audição de La Saeta.

Jarbas Novelino Barato