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68 – Cenas

agosto 13, 2008

Cena 19 – Cena Final, ou Cai o pano, ou A poesia Necessária

por Eduardo Sposito

Vou encerrar essa sequência de cenas. Poderia terminar lembrando minha última passeata quando fomos cercados numa praça na Penha pelas tropas do Erasmo Dias, ao som das bombas de efeito moral e fumaça do gás lacrimogênio.

Mas não quero encerrar com um gosto amargo na boca…
Prefiro lembrar alguns trechos do grande poeta Thiago de Mello, para reforçar uma frase do antigo “Pasquim” que dizia:

“A poesia é necessária”. Ou como dizia o Che: sem perder a ternura.

Trata-se de o “Estatuto do Homem” do Thiago, que tirei de uma edição onde constava também a versão para o espanhol feita pelo Neruda (“O Estatuto”foi lançado no Chile, durante o exílio do Thiago e com apoio do Neruda)

Vou lembrar apenas os artigos 4 e 14, que me comovem mais (todos são ótimos)
Artigo 4º:

“Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul
do céu.
O homem confiará no homem como
um menino confia em outro menino.”

Art. 14º

“Fica proibido
o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
ou como a semente do trigo
e a sua morada será sempre
o coração do homem”

(Não consigo ler esse poema sem lágrimas nos olhos)

E nada mais precisa ser dito.